segunda-feira, 23 de julho de 2012

A vida de Lobato


Aos 18 de abril de 1882 nasce o primogênito de José Bento Marcondes Lobato e Olímpia Augusta Monteiro Lobato, batizado com o nome de José Renato. Foi o único filho homem da família, todos o chamavam de Juca. Uma atitude do jovem é intrigante, aos 11 anos decide mudar o nome para José Bento, na época seu pai tinha uma bengala, marca que representava à elegância do homem, e mudando o nome poderia utilizá-la futuramente. Eles viviam em uma fazenda Santa Maria em Ribeirão das Almas, próximo a Taubaté. Como qualquer menino da época gostava de pescarias, banhos de cachoeiras, tiros de espingarda e passeio a cavalo. Visitava constantemente a casa do avô José Francisco Monteiro, o Visconde de Tremembé, encantava-se com a biblioteca que mantinha, estes chamavam mais a atenção de Lobato do que a presença do Imperador Pedro II, hóspede de seu avô.

Seu letramento inicia com a mãe Olímpia, filha do Visconde Anacleta Augusta do Amor Divino, sua avó era professora do primário conhecida como “vó Anacleta”. Como fazia parte da época e da classe, Lobato estuda com professor particular após os primeiros passos ensinados pela mãe, e aos sete anos de ingressa no Colégio Kennedy, e logo após em outras diversas escolas de Taubaté, entre elas o Colégio Americano, o Colégio Paulista e o São João Evangelista de Antônio Quirino de Sousa e Castro, escola onde conhece sua futura esposa, a neta do Quirino.


No final do século XIX, com 13 anos Lobato vai para São Paulo com destino ao Instituto de Ciências e Letras da capital, lá aprofunda seus estudos em matérias especificas para o curso de Direito, mas acaba reprovando em Português e retorna para sua cidade Taubaté e para o Colégio Paulista. Nesta época colabora com a publicação de um jornalzinho estudantil O Guarany. Resolve usar pseudônimos para a assinatura de seus textos, Lobato é agora para os leitores Josbem e Nhô Dito. 

Monteiro retorna a São Paulo em 1896 para fazer novos testes, desta vez consegue a aprovação. Entra para o Instituto Ciências e Letras se mantêm durante três anos, após isto reprova em latim. Novamente utilizando pseudônimos, Gustavo Lannes colabora com outros jornais estudantis O Patriota e A Pátria, futuramente cria seu próprio jornal, rotulado como H2O. Tem participação no Grêmio Literário Álvares de Azevedo em que declama poesias, faz discursos e compete com outros alunos torneios oratórios.

Em Junho de 1898 seu pai vem a falecer, a mãe um ano seguinte, em junho de 1899. Embora tenha o desejo de ser pintor ou engenheiro segue o sonho do avô e entra no curso de Direito em 1900 na faculdade do largo de São Francisco. Foi eleito em 1902 presidente do Centro Acadêmico Arcádia, tendo colaboração no jornal Onze de Agosto. Durante este período escreve para vários jornais estudantis, com assuntos relacionados a teatro, arte e música. Na faculdade não simpatiza com os professores e passa a debater ideias sobre anarquismo, faz caricatura dos mestres, se envolve com a filosofia dos revolucionários e participa da política estudantil.

Em 1903 faz constantes críticas teatrais e participa de um concurso literário com o conto Gens ennuyeux, vence o concurso e o jornal publica em 1904. Em conjunto, suas amizades influentes do grupo O Cenáculo é repleto de literatura e boemia, reuniam-se no Café Guarany e lá trocavam ideias literárias. Na companhia de Godofredo Rangel e Ricardo Gonçalves reúnem-se em um chalé amarelo, em que batizam de O Minarete. Este nome também foi utilizado para nomear um jornal da cidade de Pindamonhangaba, interior de São Paulo, o autor é Benjamim Pinheiro, amigo do grupo O Cenáculo. O conteúdo do jornal é contribuído pelos integrantes do chalé, Lobato agora escreve com o pseudônimo Yewski, devido suas publicações polêmicas, criticado pela população, a direção do jornal logo cancelou seus textos. Neste período o adolescente de Taubaté assina com vários pseudônimos: Rodanto Cor de Rosa, Lobatoyewski, Guy d’Hã, Marinho Dias, Hélio Bruma, HB e ML.


Conclui o curso de Direito em 1904, retornando para sua cidade é recebido com discursos e banda musical, o elogiando pelo bacharelado em Direito. No ano de 1905 planeja montar seu próprio negócio, pretendia investir em uma indústria de doces e geleias, com o intuito de reduzir a mesmice presente na cidade. Lobato já namora a neta do doutor Quirino, seu velho professor e rival no xadrez, Maria Pureza da Natividade. Em 1907 eles ficam noivos, o jovem pensando em casar precisa de um emprego para manter sua família, tem em mente um cargo público, pois condiz com sua formação. Decorrente das influências de seu avô consegue um cargo de promotor na cidade de Areias, município próximo ao Vale do Paraíba.

Juca e Purezinha se comunicam por cartas, a mudança para Areias distancia os noivos, o tédio toma conta de juquinha e deixa de fazer seus hobbies, busca outra forma de preencher as horas vagas em que está só em Areias, escreve diversos contos que são publicados em revistas, e tempos depois forma um livro só de contos em 1918. Traduz para o Estado de São Paulo artigos de Weekly Times.

Como advogado, executa sua primeira causa e única, entre João Costa e Sá e a firma Gonçalves & Ferreira e ganha. Casa-se com Maria Purezinha um ano após o noivado, em 1908, realizado em São Paulo. A lua de mel é nas praias da cidade de Santos, mas um acidente envolvendo os recém-casados antecipa a volta deles, acabam pisando em um molusco venenoso e queimam os pés, o tratamento é feito em Areias, local onde passam a morar. Lobato e sua esposa se mudam para um casarão, frequentemente ganha folgas da promotoria, sobrando tempo o suficiente para enviar suas produções para diversos jornais e revistas de outras cidades próximas de Areias. Uma carta enviada a seu cunhado em 1909, demonstra a vontade que tem de mudar de vida e da cidade tão pacata.

Em 1911 morre seu avô, o Visconde de Tremembé, Lobato então se torna o único herdeiro do patrimônio da família, a fazenda Buquira localizada em Mantiqueira, torna-se fazendeiro empresário, apesar da imensidão das terras, a fazenda é decadente, mas muda-se com sua família assim mesmo, e já tem sua primogênita Marta, que nasceu em 1909 e Edgar em 1910. O recém-fazendeiro tenta aumentar o lucro da lavoura e agricultura, importa cabras, galinhas, porcos, possui plantação de café, milho e feijão que também são importados, mas devido os tempos difíceis para política o cultivo em fazendas. Esta crise inspira o escritor a enviar uma carta à seção Queixas e reclamações do jornal o Estado de S. Paulo, a fazenda é administrada por ele de 1911 a 1917, período em que escreve o texto Velha praga em que desabafa sobre a vida caipira, este texto originou os personagens Jeca Tatu, Chico Marimbondo e Manuel Peroba, feito que trás sucesso a Lobato.


Estes indícios colaboram para que Lobato pense logo em vender a fazenda, pois só há gastos e nada de lucro. Anuncia, mas demora anos até que aparece um interessado em comprá-la, se chama Antônio Leite, fecham negócio em 1917, possibilitando a mudança da família Monteiro Lobato para Paulicélia, cidade no interior de São Paulo, agora com mais dois filhos Guilherme que nascera em 1912 e Ruth em 1916. Ainda como colaborador de manchetes para o Estado de S. Paulo, o jornal publica outro texto de Monteiro, nivelado como do mesmo porte de Velha praga, o texto é destinado à exposição da pintora Anita Malfati, seguidora do Modernismo Europeu. A forma com que faz sua arte, com que trabalha as cores em seus quadros não agrada Lobato, porém reconhece o talento da artista. Logo surge Oswald de Andrade, jovem também, tem ideais opostos aos de Monteiro, em colaboração com outro jornal Oswald é a favor do modernismo e elogiam os dotes de Anita, essas atitudes foram o bastante para declarar a oposição de ideias, em um lado os modernistas e de outro o Lobato solitário.


Em um discurso político que aconteceu no Teatro Lírico no Rio de Janeiro em 1919, Rui Barbosa cita Lobato, tornando-o ainda mais popular. Sua primeira história infantil é publicada em 1920, com o nome de A menina do Nariz Arrebitado, o texto é uma edição da Revista Brasil. Alguns problemas financeiros se alastraram em São Paulo nos anos 20, a editora Revista do Brasil, conhecida como sua empresa Monteiro Lobato & Cia e depois como Companhia Gráfico-Editora Monteiro Lobato abre falência, o principal fator da quebra de sua empresa é a Revolução de 1924 que mobilizou a cidade e afetou os leitores, que tiveram de reduzir os gastos devido à crise no estado. 

Em 1925 abre a Companhia Editora Nacional junto a Octales Marcondes, com resquícios da Gráfica Editora Monteiro Lobato, ano que se transfere para a República do Rio de Janeiro. Octales cuida da parte administrativa da empresa, enquanto Monteiro para a editorial. Octales logo imprime a primeira obra da nova editora Hans Staden: meu cativeiro entre os selvagens do Brasil, o texto foi organizado por Monteiro. Mesmo com essa torrente que levou a falência suas primeiras editoras Lobato cria o Sítio do Picapau Amarelo, entra em circulação em 1921 e também A menina do nariz arrebitado, obra integral continuação da tiragem da Revista do Brasil.

Lobato está voltado para o gênero infantil, apesar do sucesso que teve com os livros não infantis, foca em seus personagens do sítio e nas crianças leitoras. Do Brasil à Argentina suas obras fazem sucesso, é assim por toda a sua vida, dando inicio a literatura infantil brasileira. Repletos de aventuras e ensinamentos o sítio do picapau amarelo é educativo para os brasileirinhos. Distribui para as escolas públicas quinhentos de seus exemplares, assim Lobato consegue vender trinta mil ao governo estadual. Washigton Luís, governador de São Paulo, visita a escola Alarico Silveira, e lamentando a situação dos livros utilizados pelos alunos, faz está compra grande das obras de seu amigo Lobato. 

Devido influências de Washigton Luís no governo seu amigo Alarico Silveira é nomeado chefe da Casa Civil, sendo indicado por ele. As publicações por período nos jornais com assuntos críticos não agradam os militares, logo Lobato sai do Brasil e assume o cargo comerciário brasileiro em Nova York.

Antes de embarcar para Nova York, Lobato publica em folhetins O presidente negro ou O choque das raças, subtitulado de Romance americano que se passa no ano de 2228, uma época futurística, o jornal A manhã o divulga. O interesse de Monteiro a esta publicação em cima da hora de sua partida era de que conseguisse ingressar na literatura norte-americana, sua intenção era de fundar a editora Tupy Publishing Company. 

Embarca com sua família para os Estados Unidos em 1927, lá presencia o desenvolvimento do país americano, conclui que o progresso advém do investimento no petróleo e ferro, o crescimento é por meio das máquinas e tecnologias. Defende os ideais de Smith que não utilizava o carvão para a exploração de ferro no Brasil. Faz investimentos na Bolsa de Nova York em 1929, no ano seguinte perde todo o seu capital inserido no mercado estrangeiro e retorna ao Brasil em 1931 e decide montar seu próprio negócio para desenvolver ferro, chamado de Sindicato Nacional de Indústria e Comércio, porém, perde o ânimo com o ferro e começa a investir no petróleo. 

Demonstra sua admiração e êxtase em meio a tanta produção e desenvolvimento por cartas enviadas a seus amigos. E nos Estados Unidos vivem por um bom tempo, lá sua filha Marta casa-se, infelizmente um de seus filhos tem uma doença grave, cuidados que fez Lobato recorresse à ajuda financeira. Planeja o desenvolvimento do ferro e aço no Brasil assim que retornar, envia diversas cartas em que relata suas ideias aos amigos. Investimento que iria render em milhões de dólares, pretensão de Monteiro. Seu encanto com o mercado americano o influência a aplicar dinheiro na Bolsa de Valores de Nova York, mas quebra em 1929 e seus investimentos escorrem junto ao fracasso da bolsa. A crise mundial abala o cargo que possui e o governo do amigo Washington, a pobreza de Lobato e ausência de conhecidos no poder faz com que ele retorne ao Brasil.

Retornando ao Brasil volta à ativa como escritor, pois este seria a única forma de manter sua família, vende suas ações aplicadas na Companhia Editora Nacional. Sua renda agora advém dos escritos infantis e traduções. E apesar da crise em que está passando não deixa de acreditar no desenvolvimento petrolífero do Brasil, com isso incentiva o investimento criando companhias para a extração do petróleo. Apesar de abrir a Companhia de Petróleo do Brasil, Companhia de Petróleo Nacional, Companhia petrolífera Brasileira e a Companhia de Petróleo Cruzeiro do Sul, todas abrem falência tempos depois, decorrente de boicotes e sabotagem elétrica.


Em 1936 publica O escândalo do petróleo, narrativa de Lobato que relata o projeto e motivo do fracasso com o investimento que a princípio seria milionário, mas o governo da época não colabora muito com este progresso. Já no governo de Vargas a ditadura militar inicia as censuras a tudo que desrespeite ou ameace o atual governo, logo a obra de Lobato é proibida de circular, da mesma forma a proibição da exploração e extração de petróleo.
            
Em 1940 o presidente Vargas oferece a Lobato um cargo no Ministério de Propagandas, mas o escritor recusa, no ano seguinte é preso por enviar cartas a Getúlio o culpando pela má gestão política e fracasso no minério. Na penitenciária aproveita a situação para analisar os problemas que os presos passam, ensina-os a ler, se torna companheiro de alguns dividindo o alimento que recebe da esposa. Mesmo estando preso não deixa de escrever suas cartas que insulta aqueles que estão no poder, a próxima carta é enviada ao General Horta Barbosa, do Conselho Nacional do Petróleo: “os deliciosos e inesquecíveis dias passados na Casa de Detenção” que lhe permitiram “meditar sobre o livro de Walter Pitkin, A short introduction to the history of Human Stupidity” (apud LAJOLO, 2000, p. 70-77)

Lobato foi condenado a seis meses de prisão, a qual cumpre três meses. A tristeza o abate, dois de seus filhos vem a falecer muito jovens, o cunhado se suicida, e sua situação financeira não está em tempos bons. As traduções e a venda de algumas obras o mantém financeiramente. A ânsia da alegria o retoma quando o amigo Washington abre a Biblioteca do Congresso, ele diz “um país se faz com homens e com livros” (apud LAJOLO, 2000, p. 78), se interessa pelo espiritismo, algumas posições comunitárias e adere às ideias revolucionárias do Petróleo e futura criação da Petrobrás, nesta fase, próximo dos sessenta anos escreve Zé Brasil, sua obra mais desconhecida de todas, escrita por volta dos anos 40.

As crianças da época saúdam suas obras literárias, mas o governo logo proíbe a permanência das obras infantis nas bibliotecas. São retirados todos os exemplares das escolas públicas e queimados em colégios religiosos, o escrito sofreu tantas represálias que muda a editora que seus livros são publicados da Companhia Editora Nacional para a Editora Brasiliense.


Muda-se para a Argentina em 1946, onde suas obras infantis fazem sucesso, é recebido pelos estrangeiros com carinho e satisfação. Lá escreve o livro La nueva Argentina, permanece lá durante um ano e retorna ao Brasil em 1947, retorna com novos ideais, dos quais compreende melhor o capitalismo, se desliga da União Cultural Brasil-Estados Unidos. É convidado para se filiar ao PCB, mas recusa e envia a Prestes saudações que são lidas no comício de 1945. Após essa reformulação de opiniões Lobato escreve novamente Zé Brasil, sendo está a ultima publicação do escritor que morre em São Paulo no dia 4 de abril de 1948 aos 66 anos, com as vendas em alta sua fama retorna. Seu enterro é conduzido pela multidão de leitores, é velado na Biblioteca Municipal e enterrado no Cemitério da Consolação.

Monteiro Lobato vê a mudança dos séculos, presencia o Império e abolição da escravatura, a Proclamação da República, o surgimento do modernismo e toda a República Velha, a Revolta da vacina, o nascimento da rádio no país, revoluções de 1924 e 1930, Getúlio Vargas e o Estado Novo, Redemocratização de 1946, testemunhou a criação de quatro Constituições, viu resquícios de duas Guerras Mundiais, a Revolução Russa, em 1917 e da queda da Bolsa de Nova York, sua investida na bolsa foi mal sucedida, o que acabou com suas economias, fazendo com que se retorna para o Brasil passa por dificuldades com suas editoras, declara falência e muda de editor para escritor. Sofre tempos difíceis com a queda de suas vendas editoriais, a crise econômica chega a Lobato até em sua vida profissional. Poucas vendas de seus exemplares o obriga a fazer traduções de livros estrangeiros. Trilhou um caminho para a futura empresa petrolífera, hoje denominada de Petrobrás, e foi o autor brasileiro que mais contribuiu para o crescimento da literatura infantil no Brasil, lançou a pedagogia através da leitura, além de ensinar aos pequenos brasileirinhos as aventuras do imaginário lobatiano expandiu a criatividade das crianças, formou o intelecto dos futuros escritores.


Fonte:


SANTOS, Yndianara da Silva. Estereótipo racista na obra de Monteiro Lobato? Histórias de Tia Nastácia. Brasília, 2012.



Um comentário:

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