segunda-feira, 23 de julho de 2012
Preconceito Racial em Histórias de Tia Nastácia
A representação do negro na obra de Monteiro Lobato corresponde com a época em que vivia. Durante a infância Lobato presenciou o fim da escravatura no Brasil, a Princesa Isabel sancionou a Lei Áurea em 13 de maio de 1888, garantindo a liberdade a mais de 700 42 mil escravos no país. Apesar deste feito que traria o progresso a todos os cidadãos brasileiros, alguns negros mesmo com a lei que os defendiam, ainda trabalhavam para seus antigos patrões, este foi o ponto abordado por Lobato em sua narrativa.
De acordo com Penteado (2011, p. 191), realizador de estudos e pesquisas sobre a obra infantil de Monteiro, na saga Sítio do Picapau Amarelo Lobato mantém a personagem negra Tia Nastácia na cozinha do Sítio de Dona Benta, que foi sua proprietária na época da escravidão, mesmo com a liberdade continuou a trabalhar para Dona Benta. Em Reinações de Narizinho (1920) destaca-se o trecho que fale um pouco sobre a negra: — tia Nastácia, negra de estimação que carregou Lúcia em pequena [...] (p. 02)
As características físicas de Tia Nastácia são comentadas por Penteado, pois tiveram importância na representação do negro na obra infantil. Tia Nastácia é ex-escrava de Dona Benta e levou uma vida sofrida por ser analfabeta, sempre estava com um lenço na cabeça e um avental, o que fazia de melhor era cozinhar. Lobato buscou representar sua personagem negra com verossimilhança ao negro dos anos de pós-abolição. Os pintores que colaboravam para a representação dos personagens de Lobato caricaturavam a negra com uma tintura de forma grotesca em relação à cor da pele da negra e os lábios grandes. (Cf. PENTEADO, 2011, p. 89)
Marisa Lajolo, leitora desde criança das
obras de Lobato, se torna pesquisadora sobre essas obras. Argumenta sobre a
participação da personagem Tia Nastácia na narrativa, a qual está sempre
vinculada à cozinha, na obra O Minotauro,
ela é sequestrada e levada pela criatura mitológica para que demonstre seus
dotes culinários, no desenlace da história Tia Nastácia doma o minotauro com
seus bolinhos. Lobato busca relacionar sua personagem com o saber de negra
cozinheira, este espaço restrito apenas a cozinha se torna um emblema de seu
confinamento e de sua desqualificação social. (LAJOLO, 1998)
Lajolo
(1998) publicou um artigo que discute sobre A figura do negro em Monteiro
Lobato em suas obras, na obra Histórias
de Tia Nastácia a cozinheira ganha o papel de contadora de histórias, papel
até então exercido por Dona Benta, e leva para as crianças o conhecimento que
possui sobre o folclore brasileiro. Pedrinho logo se empolga com o significado
de folclore e diz:
— Uma ideia
que eu tive. Tia Nastácia é o povo. Tudo que o povo sabe e vai contando, de um
para outro, ela deve saber. Estou com o plano de espremer tia Nastácia para
tirar o leite do folclore que há nela. [...]
— As negras velhas — disse Pedrinho — são
sempre muito sabidas. Mamãe conta de uma que era um verdadeiro dicionário de
histórias folclóricas, uma de nome Esméria, que foi escrava de meu avô. Todas
as noites ela sentava-se na varanda e desfiava histórias e mais histórias. Quem
sabe se tia Nastácia não é uma segunda tia Esméria? (p. 05-06).
Fonte: Lobato,
Monteiro. Histórias de Tia Nastácia. Versão Digital
De acordo com Penteado (2011) as
características de Tia Nastácia tiveram uma pretensão por parte de Lobato, no
trecho descrito acima a posição que ele insere sua personagem negra é de contadora
de histórias, papel desempenhado nas obras anteriores e posteriores a Dona
Benta. Tia Nastácia é conhecedora do folclore brasileiro, então a informação
sobre as histórias brasileiras deveria ser repassada pela personagem que é a
voz do povo. Seus ouvintes serão os mesmo de Dona Benta, as crianças aprendizes
de histórias por meio de uma mentora, Pedrinho, Emília e Narizinho.
Lajolo
(1998) argumenta e destaca outros trechos de Histórias de Tia Nastácia em seu artigo relacionado à figura do
negro nas obras de Monteiro, discute sobre os comentários da boneca Emília que
formam estereótipos, que segundo Bernd (1988) é uma generalização estabelecida
que se mantenha vinculada a respeito de um indivíduo. A linguagem da boneca
também é racista, pois ela sente-se superior a Tia Nastácia e a ofende
proferindo palavras ofensivas e preconceituosas, pois ela nega as histórias
contadas pela negra cozinheira. De acordo com Chochík (2008) o preconceito
também está relacionado ao comportamento agressivo com outro que seja sensível,
conduta presente nas falas de Emília:
—
Pois cá comigo — disse Emília — só aturo essas histórias como estudos da
ignorância e burrice do povo. Prazer não sinto nenhum. […] — coisa mesmo de negra
beiçuda, como tia Nastácia. Não gosto, não gosto e não gosto... [...] (p. 24).
— Bem se vê que é preta e beiçuda! Não tem a menor
filosofia, esta diaba. [...] (p. 88)
Fonte: Monteiro
Lobato, Edição Centenário
O termo ao qual Emília se refere à Tia
Nastácia cria um estereótipo na personagem, sendo este racista, pois a
discriminação está relacionada à aparência física da negra, vinculando também
ao preconceito racial, fato social do Brasil por volta dos anos de 1930, e se
desenvolve com as ideias a respeito da superioridade de um indivíduo em relação
ao outro. As características físicas da negra são estereotipadas pela boneca,
ao qual se refere a cozinheira como preta
e beiçuda.
A linguagem com palavras ofensivas de Emília
as histórias contadas por Tia Nastácia segundo Lajolo (1998) consiste no fato
de que a narradora é negra e analfabeta, repassa somente aquilo que sabe por
ouvir seus antepassados contarem, não tendo valor no conhecimento cultural dos
ouvintes, os quais acham bobagens de
negra velha.
De acordo com Lajolo (1998, p. 04) os
xingamentos, através da boneca Emília, demonstram que a negra cozinheira, por
mais que mude sua posição na história e passe a ser narradora, não receberá a
mesma consideração social e valorativa de sua narrativa, pois seu conhecimento
vem do povo e não da cultura escrita, como é munida Dona Benta. Desta forma Tia
Nastácia permanece como inferior em relação aos seus ouvintes, discriminada
devido sua condição social. Outro ponto analisado por Lajolo (1998, p. 03) na
questão dos xingamentos discriminatórios de Emília é de que Lobato escreveu sua
narrativa com traços de linguagem verossímeis ao uso coloquial da sociedade
brasileira de 1930, com isso surgem ambiguidades em relação ao racismo ou não
de Lobato, pois na linguagem de alguns personagens o escritor valoriza o
conhecimento da negra: — As negras velhas
— disse Pedrinho — são sempre muito sabidas. (p. 05-06)
A
inferioridade social, segundo Lajolo (1998, p. 06) se destaca também através de
Dona Benta, ela de certo modo desvaloriza a narrativa de sua doméstica, afirma
que a história de Tia Nastácia, a que o povo passa de geração para geração,
sofre alterações conforme cada um vai contando, sempre há mudança na oratória. A
posição da negra como a oradora de histórias não contribui a nenhuma elevação
cultural de seus ouvintes, pois não relata fatos da literatura moderna infantil
como Peter Pan e D. Quixote contados
por Dona Benta. O seguinte trecho relata a opinião de Dona Benta:
— Você tem razão, Emília — disse dona Benta.
— As histórias que andam na boca do povo não são como as escritas. As histórias
escritas conservam-se sempre as mesmas, porque a escrita fixa a maneira pela
qual o autor a compôs. Mas as histórias que correm na boca do povo vão se
adulterando com o tempo. Cada pessoa que conta muda uma coisa ou outra, e por
fim elas ficam muito diferentes do que eram no começo. [...]
— Sim, aumenta um ponto e introduz qualquer
modificação. Ninguém que ouça uma história é capaz de contá-la para diante sem
alteração de alguma coisa, de modo que no fim a história aparece horrivelmente
modificada. [...] (p.
18).
Emília representa no contexto da narrativa o
sistema totalitário, pois ela nega a liberdade de ação das histórias contada
pela negra, à ideologia da boneca representada por sua linguagem rejeita e não
aceita a cultura da cozinheira, ela diz “[...]
só aturo essas histórias como estudo de ignorância do povo. Prazer não sinto
nenhum [...], desta forma a boneca isola a personagem Tia Nastácia devido o
conhecimento que possui, e ainda discrimina com a fala [...] coisa mesmo de negra beiçuda [...] direcionando essa
característica para o estereótipo, que generaliza o conhecimento a negra beiçuda
Logo
Dona Benta também assume o papel de mentora dominante justificando a origem dos
contos da negra, pois seu conhecimento provém de livros, o que é provado em
escrita tudo o que diz, dando veracidade nos fatos de sua história, dando total
liberdade de desvalorizar a função atual da negra, “o totalitarismo silencia a
voz da experiência, substituindo-a pelo discurso único e absoluto do poder” (CROCHÍK, 2008, p. 38), fazendo com que ela seja inferior a sua
patroa Dona Benta. Sendo assim a negra cozinheira e a avó sábia não se igualam
em relação ao conhecimento e atribuições. (LAJOLO, 1998, p. 06)
No
trecho a seguir, Dona Benta justifica o motivo pelo qual as histórias de Tia
Nastácia são tão distorcidas e tão diferentes das que ela conta:
— Sim —
disse Dona Benta. — Nós não podemos exigir do povo o apuro artístico dos
grandes escritores. O povo... Que é o povo? São essas pobres tias velhas, como
Nastácia, sem cultura nenhuma, que nem ler sabem e que outra coisa não fazem
senão ouvir as histórias de outras criaturas igualmente ignorantes, e passá-las
para outros ouvidos, mais adulteradas ainda.[...] (p. 23)
O
papel de mentora atribuído a Tia Nastácia é de relatar os seus conhecimentos em
relação a histórias que o povo conta, traz para as crianças do sítio sua
herança africana, sua cultura. As desvalorizações de seus conhecimentos estão relacionadas
ao fato dos contos não terem origem Europeia, assim como as de Dona Benta
descendente de europeus e de raça branca que são originadas de livros, seus
serões são de conhecimentos do povo, repassados de geração para geração.
Seguindo
as explicações abordadas por Crochík (org. 2008) os ouvintes de Tia Nastácia são
como totalitaristas, pois corrompe a liberdade da fantasia das histórias
contadas pela negra, fazendo críticas sobre a origem da narrativa, nega a
manifestação da cultura do povo. Surge a partir dos julgamentos destes ouvintes
o racismo, pois Tia Nastácia é atingida pela violência totalitária, menospreza
o conteúdo de seus serões por ter origem apenas da oralidade, e eleva o valor
das histórias contadas por Dona Benta que provem de livros.
Lobato
abordou em sua obra infantil uma realidade aproximada, a verossimilhança da
realidade que o negro passava na época do Brasil pós-escravidão, fato que
decorreu durante os anos 30. De acordo com os textos de Lajolo, que argumenta
sobre a questão de racismo do autor do Sítio do Picapau Amarelo, explicita os
pontos destacados como preconceituoso, ele demonstra que o branco sempre teve
razão e é superior ao negro, mesmo que esse negro assuma o lugar de informante
de conhecimento que irá aumentar a cultura dos ouvintes, sendo evidente que
havia superioridade mesmo após o fim da escravidão e libertação de todos os
negros, ele assim mesmo seria inferior ao branco. Em alguns momentos pode-se
encontrar ambiguidade se há preconceito ou não, mas a realidade de sua obra ficcional
é latente que a escravidão deixou resquícios entre raças.
Essas
diferenças são representadas na plateia de Tia Nastácia, ao narrar suas
histórias os ouvintes se recusam a acreditarem nelas, e a justificativa é de
que as histórias de Dona Benta são mais intrigantes e possuem aventuras,
características que prende a atenção das crianças. Constatando que os dotes de
Tia Nastácia não estão direcionados a narrar histórias de aculturamento para
seu público e sim na cozinha como afirma Lajolo (1998, p. 5):
Mas como Tia Nastácia não é dona Benta, a situação de
oralidade que ela protagoniza não aponta para além de si mesma e, sobretudo,
não contribui para elevação cultura de seus ouvintes, já que nem os
familiarizam com a moderna literatura infantil como Peter Pan e tampouco os
aproxima de clássicos como D. Quixote; muito pelo contrário, constitui um
rebaixamento cultural, já que é arcaico o mundo que se faz presente em suas
histórias.
Mesmo
que Tia Nastácia exerça a função de Dona Benta, sua narrativa não terá tanta
ênfase na ampliação do conhecimento de seus ouvintes, os quais estão
acostumados com as histórias infantis lidos e narrados pela avó, demonstra o
valor entre uma cultura que repassa o conhecimento através da oralidade e outra
que tem por embasamentos escritos aprimorados da história do povo.
Da
forma que o personagem negro foi abordado nesta narrativa de Lobato a pretensão
é intencional, pois ele demonstra o valor que é cedido aos negros brasileiros
da época em que vivia e o lugar estereotipado a eles, a negação do
totalitarismo que menospreza a mudança de posição desta personagem negra ao
desenvolver o ato de contar histórias adquiridas pela oralidade, à discriminação
ao trabalho doméstico relacionado ao prestador de serviços aos brancos, e a
inferioridade da negra em relação aos demais habitantes do Sítio.
Fonte:
SANTOS, Yndianara da Silva. Estereótipo racista na obra de Monteiro Lobato? Histórias de Tia Nastácia. Brasília, 2012.
A vida de Lobato
Aos 18 de abril de 1882 nasce o primogênito de
José Bento Marcondes Lobato e Olímpia Augusta Monteiro Lobato, batizado com o
nome de José Renato. Foi o único filho homem da família, todos o chamavam de
Juca. Uma atitude do jovem é intrigante, aos 11 anos decide mudar o nome para
José Bento, na época seu pai tinha uma bengala, marca que representava à
elegância do homem, e mudando o nome poderia utilizá-la futuramente. Eles
viviam em uma fazenda Santa Maria em Ribeirão das Almas, próximo a Taubaté. Como
qualquer menino da época gostava de pescarias, banhos de cachoeiras, tiros de
espingarda e passeio a cavalo. Visitava constantemente a casa do avô José
Francisco Monteiro, o Visconde de Tremembé, encantava-se com a biblioteca que
mantinha, estes chamavam mais a atenção de Lobato do que a presença do
Imperador Pedro II, hóspede de seu avô.
Seu letramento inicia com a mãe Olímpia, filha
do Visconde Anacleta Augusta do Amor Divino, sua avó era professora do primário
conhecida como “vó Anacleta”. Como fazia parte da época e da classe, Lobato
estuda com professor particular após os primeiros passos ensinados pela mãe, e
aos sete anos de ingressa no Colégio Kennedy, e logo após em outras diversas
escolas de Taubaté, entre elas o Colégio Americano, o Colégio Paulista e o São
João Evangelista de Antônio Quirino de Sousa e Castro, escola onde conhece sua
futura esposa, a neta do Quirino.
No final do século XIX, com 13 anos Lobato vai para São Paulo com destino ao Instituto de Ciências e Letras da capital, lá aprofunda seus estudos em matérias especificas para o curso de Direito, mas acaba reprovando em Português e retorna para sua cidade Taubaté e para o Colégio Paulista. Nesta época colabora com a publicação de um jornalzinho estudantil O Guarany. Resolve usar pseudônimos para a assinatura de seus textos, Lobato é agora para os leitores Josbem e Nhô Dito.
No final do século XIX, com 13 anos Lobato vai para São Paulo com destino ao Instituto de Ciências e Letras da capital, lá aprofunda seus estudos em matérias especificas para o curso de Direito, mas acaba reprovando em Português e retorna para sua cidade Taubaté e para o Colégio Paulista. Nesta época colabora com a publicação de um jornalzinho estudantil O Guarany. Resolve usar pseudônimos para a assinatura de seus textos, Lobato é agora para os leitores Josbem e Nhô Dito.
Monteiro retorna a São Paulo em 1896 para fazer
novos testes, desta vez consegue a aprovação. Entra para o Instituto Ciências e
Letras se mantêm durante três anos, após isto reprova em latim. Novamente
utilizando pseudônimos, Gustavo Lannes colabora com outros jornais estudantis O
Patriota e A Pátria, futuramente cria seu próprio jornal, rotulado como H2O.
Tem participação no Grêmio Literário Álvares de Azevedo em que declama poesias,
faz discursos e compete com outros alunos torneios oratórios.
Em Junho de 1898 seu pai vem a falecer, a mãe um
ano seguinte, em junho de 1899. Embora tenha o desejo de ser pintor ou engenheiro
segue o sonho do avô e entra no curso de Direito em 1900 na faculdade do largo
de São Francisco. Foi eleito em 1902 presidente do Centro Acadêmico Arcádia,
tendo colaboração no jornal Onze de Agosto. Durante este período escreve para
vários jornais estudantis, com assuntos relacionados a teatro, arte e música.
Na faculdade não simpatiza com os professores e passa a debater ideias sobre
anarquismo, faz caricatura dos mestres, se envolve com a filosofia dos
revolucionários e participa da política estudantil.
Em 1903 faz constantes críticas teatrais e
participa de um concurso literário com o conto Gens ennuyeux, vence o concurso
e o jornal publica em 1904. Em conjunto, suas amizades influentes do grupo O
Cenáculo é repleto de literatura e boemia, reuniam-se no Café Guarany e lá
trocavam ideias literárias. Na companhia de Godofredo Rangel e Ricardo
Gonçalves reúnem-se em um chalé amarelo, em que batizam de O Minarete. Este
nome também foi utilizado para nomear um jornal da cidade de Pindamonhangaba,
interior de São Paulo, o autor é Benjamim Pinheiro, amigo do grupo O Cenáculo. O
conteúdo do jornal é contribuído pelos integrantes do chalé, Lobato agora
escreve com o pseudônimo Yewski, devido suas publicações polêmicas, criticado
pela população, a direção do jornal logo cancelou seus textos. Neste período o
adolescente de Taubaté assina com vários pseudônimos: Rodanto Cor de Rosa,
Lobatoyewski, Guy d’Hã, Marinho Dias, Hélio Bruma, HB e ML.
Conclui
o curso de Direito em 1904, retornando para sua cidade é recebido com discursos
e banda musical, o elogiando pelo bacharelado em Direito. No ano de 1905
planeja montar seu próprio negócio, pretendia investir em uma indústria de
doces e geleias, com o intuito de reduzir a mesmice presente na cidade. Lobato
já namora a neta do doutor Quirino, seu velho professor e rival no xadrez,
Maria Pureza da Natividade. Em 1907 eles ficam noivos, o jovem pensando em
casar precisa de um emprego para manter sua família, tem em mente um cargo
público, pois condiz com sua formação. Decorrente das influências de seu avô
consegue um cargo de promotor na cidade de Areias, município próximo ao Vale do
Paraíba.
Juca e Purezinha se comunicam por
cartas, a mudança para Areias distancia os noivos, o tédio toma conta de
juquinha e deixa de fazer seus hobbies, busca outra forma de preencher as horas
vagas em que está só em Areias, escreve diversos contos que são publicados em
revistas, e tempos depois forma um livro só de contos em 1918. Traduz para o Estado de São Paulo artigos de Weekly Times.
Como advogado, executa sua
primeira causa e única, entre João Costa e Sá e a firma Gonçalves &
Ferreira e ganha. Casa-se com Maria Purezinha um ano após o noivado, em 1908, realizado
em São Paulo. A lua de mel é nas praias da cidade de Santos, mas um acidente
envolvendo os recém-casados antecipa a volta deles, acabam pisando em um
molusco venenoso e queimam os pés, o tratamento é feito em Areias, local onde
passam a morar. Lobato e sua esposa se mudam para um casarão, frequentemente
ganha folgas da promotoria, sobrando tempo o suficiente para enviar suas
produções para diversos jornais e revistas de outras cidades próximas de
Areias. Uma carta enviada a seu cunhado em 1909, demonstra a vontade que tem de
mudar de vida e da cidade tão pacata.
Em 1911 morre seu avô, o Visconde
de Tremembé, Lobato então se torna o único herdeiro do patrimônio da família, a
fazenda Buquira localizada em Mantiqueira, torna-se fazendeiro empresário,
apesar da imensidão das terras, a fazenda é decadente, mas muda-se com sua
família assim mesmo, e já tem sua primogênita Marta, que nasceu em 1909 e Edgar
em 1910. O recém-fazendeiro tenta aumentar o lucro da lavoura e agricultura,
importa cabras, galinhas, porcos, possui plantação de café, milho e feijão que
também são importados, mas devido os tempos difíceis para política o cultivo em
fazendas. Esta crise inspira o escritor a enviar uma carta à seção Queixas e
reclamações do jornal o Estado de S.
Paulo, a fazenda é administrada por ele de 1911 a 1917, período em que
escreve o texto Velha praga em que desabafa sobre a vida caipira, este texto originou
os personagens Jeca Tatu, Chico Marimbondo e Manuel Peroba, feito que trás
sucesso a Lobato.
Estes indícios colaboram para que
Lobato pense logo em vender a fazenda, pois só há gastos e nada de lucro.
Anuncia, mas demora anos até que aparece um interessado em comprá-la, se chama
Antônio Leite, fecham negócio em 1917, possibilitando a mudança da família Monteiro Lobato para Paulicélia, cidade
no interior de São Paulo, agora com mais dois filhos Guilherme que nascera em
1912 e Ruth em 1916. Ainda como colaborador de manchetes para o Estado de S. Paulo, o jornal publica
outro texto de Monteiro, nivelado como do mesmo porte de Velha praga, o texto é
destinado à exposição da pintora Anita Malfati, seguidora do Modernismo
Europeu. A forma com que faz sua arte, com que trabalha as cores em seus
quadros não agrada Lobato, porém reconhece o talento da artista. Logo surge
Oswald de Andrade, jovem também, tem ideais opostos aos de Monteiro, em
colaboração com outro jornal Oswald é a favor do modernismo e elogiam os dotes
de Anita, essas atitudes foram o bastante para declarar a oposição de ideias,
em um lado os modernistas e de outro o Lobato solitário.
Em um discurso político que aconteceu no Teatro
Lírico no Rio de Janeiro em 1919, Rui Barbosa cita Lobato, tornando-o ainda
mais popular. Sua primeira história infantil é publicada em 1920, com o nome de
A menina do Nariz Arrebitado, o texto
é uma edição da Revista Brasil. Alguns problemas financeiros se alastraram em
São Paulo nos anos 20, a editora Revista do Brasil, conhecida como sua empresa
Monteiro Lobato & Cia e depois como Companhia Gráfico-Editora Monteiro
Lobato abre falência, o principal fator da quebra de sua empresa é a Revolução
de 1924 que mobilizou a cidade e afetou os leitores, que tiveram de reduzir os
gastos devido à crise no estado.
Em
1925 abre a Companhia Editora Nacional junto a Octales Marcondes, com
resquícios da Gráfica Editora Monteiro Lobato, ano que se transfere para a
República do Rio de Janeiro. Octales cuida da parte administrativa da empresa,
enquanto Monteiro para a editorial. Octales logo imprime a primeira obra da
nova editora Hans Staden: meu cativeiro entre os selvagens do Brasil, o texto
foi organizado por Monteiro. Mesmo com essa torrente que levou a falência suas
primeiras editoras Lobato cria o Sítio do Picapau Amarelo, entra em circulação
em 1921 e também A menina do nariz
arrebitado, obra integral continuação da tiragem da Revista do Brasil.
Lobato está voltado para o gênero
infantil, apesar do sucesso que teve com os livros não infantis, foca em seus
personagens do sítio e nas crianças leitoras. Do Brasil à Argentina suas obras
fazem sucesso, é assim por toda a sua vida, dando inicio a literatura infantil
brasileira. Repletos de aventuras e ensinamentos o sítio do picapau amarelo é
educativo para os brasileirinhos. Distribui para as escolas públicas quinhentos
de seus exemplares, assim Lobato consegue vender trinta mil ao governo
estadual. Washigton Luís, governador de São Paulo, visita a escola Alarico
Silveira, e lamentando a situação dos livros utilizados pelos alunos, faz está
compra grande das obras de seu amigo Lobato.
Devido influências de Washigton
Luís no governo seu amigo Alarico Silveira é nomeado chefe da Casa Civil, sendo
indicado por ele. As publicações por período nos jornais com assuntos críticos
não agradam os militares, logo Lobato sai do Brasil e assume o cargo
comerciário brasileiro em Nova York.
Antes de embarcar para Nova York, Lobato
publica em folhetins O presidente negro
ou O choque das raças, subtitulado de
Romance americano que se passa no ano de 2228, uma época futurística, o jornal
A manhã o divulga. O interesse de Monteiro a esta publicação em cima da hora de
sua partida era de que conseguisse ingressar na literatura norte-americana, sua
intenção era de fundar a editora Tupy Publishing Company.
Embarca com sua família para os
Estados Unidos em 1927, lá presencia o desenvolvimento do país americano, conclui
que o progresso advém do investimento no petróleo e ferro, o crescimento é por
meio das máquinas e tecnologias. Defende os ideais de Smith que não utilizava o
carvão para a exploração de ferro no Brasil. Faz investimentos na Bolsa de Nova
York em 1929, no ano seguinte perde todo o seu capital inserido no mercado
estrangeiro e retorna ao Brasil em 1931 e decide montar seu próprio negócio
para desenvolver ferro, chamado de Sindicato Nacional de Indústria e Comércio,
porém, perde o ânimo com o ferro e começa a investir no petróleo.
Demonstra
sua admiração e êxtase em meio a tanta produção e desenvolvimento por cartas
enviadas a seus amigos. E nos Estados Unidos vivem por um bom tempo, lá sua
filha Marta casa-se, infelizmente um de seus filhos tem uma doença grave,
cuidados que fez Lobato recorresse à ajuda financeira. Planeja o
desenvolvimento do ferro e aço no Brasil assim que retornar, envia diversas
cartas em que relata suas ideias aos amigos. Investimento que iria render em
milhões de dólares, pretensão de Monteiro. Seu encanto com o mercado americano
o influência a aplicar dinheiro na Bolsa de Valores de Nova York, mas quebra em
1929 e seus investimentos escorrem junto ao fracasso da bolsa. A crise mundial
abala o cargo que possui e o governo do amigo Washington, a pobreza de Lobato e
ausência de conhecidos no poder faz com que ele retorne ao Brasil.
Retornando ao Brasil volta à ativa
como escritor, pois este seria a única forma de manter sua família, vende suas
ações aplicadas na Companhia Editora Nacional. Sua renda agora advém dos
escritos infantis e traduções. E apesar da crise em que está passando não deixa
de acreditar no desenvolvimento petrolífero do Brasil, com isso incentiva o
investimento criando companhias para a extração do petróleo. Apesar de abrir a
Companhia de Petróleo do Brasil, Companhia de Petróleo Nacional, Companhia
petrolífera Brasileira e a Companhia de Petróleo Cruzeiro do Sul, todas abrem
falência tempos depois, decorrente de boicotes e sabotagem elétrica.
Em 1936 publica O escândalo do petróleo, narrativa de Lobato que relata o projeto e motivo do fracasso com o investimento que a princípio seria milionário, mas o governo da época não colabora muito com este progresso. Já no governo de Vargas a ditadura militar inicia as censuras a tudo que desrespeite ou ameace o atual governo, logo a obra de Lobato é proibida de circular, da mesma forma a proibição da exploração e extração de petróleo.
Em 1940 o presidente Vargas oferece a Lobato um cargo no Ministério de Propagandas, mas o escritor recusa, no ano seguinte é preso por enviar cartas a Getúlio o culpando pela má gestão política e fracasso no minério. Na penitenciária aproveita a situação para analisar os problemas que os presos passam, ensina-os a ler, se torna companheiro de alguns dividindo o alimento que recebe da esposa. Mesmo estando preso não deixa de escrever suas cartas que insulta aqueles que estão no poder, a próxima carta é enviada ao General Horta Barbosa, do Conselho Nacional do Petróleo: “os deliciosos e inesquecíveis dias passados na Casa de Detenção” que lhe permitiram “meditar sobre o livro de Walter Pitkin, A short introduction to the history of Human Stupidity” (apud LAJOLO, 2000, p. 70-77)
Lobato foi condenado a seis meses
de prisão, a qual cumpre três meses. A tristeza o abate, dois de seus filhos
vem a falecer muito jovens, o cunhado se suicida, e sua situação financeira não
está em tempos bons. As traduções e a venda de algumas obras o mantém
financeiramente. A ânsia da alegria o retoma quando o amigo Washington abre a
Biblioteca do Congresso, ele diz “um país se faz com homens e com livros” (apud
LAJOLO, 2000, p. 78), se interessa pelo espiritismo, algumas posições
comunitárias e adere às ideias revolucionárias do Petróleo e futura criação da
Petrobrás, nesta fase, próximo dos sessenta anos escreve Zé Brasil, sua obra mais desconhecida de todas, escrita por volta
dos anos 40.
As crianças da época saúdam suas
obras literárias, mas o governo logo proíbe a permanência das obras infantis
nas bibliotecas. São retirados todos os exemplares das escolas públicas e
queimados em colégios religiosos, o escrito sofreu tantas represálias que muda
a editora que seus livros são publicados da Companhia Editora Nacional para a
Editora Brasiliense.
Muda-se para a Argentina em 1946, onde suas obras infantis fazem sucesso, é recebido pelos estrangeiros com carinho e satisfação. Lá escreve o livro La nueva Argentina, permanece lá durante um ano e retorna ao Brasil em 1947, retorna com novos ideais, dos quais compreende melhor o capitalismo, se desliga da União Cultural Brasil-Estados Unidos. É convidado para se filiar ao PCB, mas recusa e envia a Prestes saudações que são lidas no comício de 1945. Após essa reformulação de opiniões Lobato escreve novamente Zé Brasil, sendo está a ultima publicação do escritor que morre em São Paulo no dia 4 de abril de 1948 aos 66 anos, com as vendas em alta sua fama retorna. Seu enterro é conduzido pela multidão de leitores, é velado na Biblioteca Municipal e enterrado no Cemitério da Consolação.
Monteiro Lobato vê a mudança dos
séculos, presencia o Império e abolição da escravatura, a Proclamação da
República, o surgimento do modernismo e toda a República Velha, a Revolta da
vacina, o nascimento da rádio no país, revoluções de 1924 e 1930, Getúlio
Vargas e o Estado Novo, Redemocratização de 1946, testemunhou a criação de
quatro Constituições, viu resquícios de duas Guerras Mundiais, a Revolução
Russa, em 1917 e da queda da Bolsa de Nova York, sua investida na bolsa foi mal
sucedida, o que acabou com suas economias, fazendo com que se retorna para o
Brasil passa por dificuldades com suas editoras, declara falência e muda de
editor para escritor. Sofre tempos difíceis com a queda de suas vendas
editoriais, a crise econômica chega a Lobato até em sua vida profissional.
Poucas vendas de seus exemplares o obriga a fazer traduções de livros
estrangeiros. Trilhou um caminho para a futura empresa petrolífera, hoje
denominada de Petrobrás, e foi o autor brasileiro que mais contribuiu para o
crescimento da literatura infantil no Brasil, lançou a pedagogia através da
leitura, além de ensinar aos pequenos brasileirinhos as aventuras do imaginário
lobatiano expandiu a criatividade das crianças, formou o intelecto dos futuros
escritores.Muda-se para a Argentina em 1946, onde suas obras infantis fazem sucesso, é recebido pelos estrangeiros com carinho e satisfação. Lá escreve o livro La nueva Argentina, permanece lá durante um ano e retorna ao Brasil em 1947, retorna com novos ideais, dos quais compreende melhor o capitalismo, se desliga da União Cultural Brasil-Estados Unidos. É convidado para se filiar ao PCB, mas recusa e envia a Prestes saudações que são lidas no comício de 1945. Após essa reformulação de opiniões Lobato escreve novamente Zé Brasil, sendo está a ultima publicação do escritor que morre em São Paulo no dia 4 de abril de 1948 aos 66 anos, com as vendas em alta sua fama retorna. Seu enterro é conduzido pela multidão de leitores, é velado na Biblioteca Municipal e enterrado no Cemitério da Consolação.
Fonte:
SANTOS, Yndianara da Silva. Estereótipo racista na obra de Monteiro Lobato? Histórias de Tia Nastácia. Brasília, 2012.
Monteiro Lobato - O escritor de Taubaté
Grande escritor brasileiro, crítico e criativo em suas ideias abordadas na literatura infantil. Aproveitou situações da realidade para inserir em suas obras, mas com o toque para a admiração e encantamento das crianças. A imaginação de Lobato criou uma ficção para os pequenos, em seu Sítio do Picapau Amarelo habitava personagens do mundo as fábulas, lá vivia Dona Benta, dona do sítio que conhece muitas histórias cheias de aventuras e conhecimentos, tudo o que seus netos Pedrinho e Narizinho precisavam. Havia também uma cozinheira, Tia Nastácia, a dona dos bolinhos divino, foi ela que fez a boneca que logo criou vida e saiu falando pelos cotovelos, seu nome Emília. O Visconde de Sabugosa, sabugo de milho, tinha conhecimentos em fazer porções para as crianças viajarem pelo mundo e universo.
Histórias que envolvem a saga do Sítio do Picapau Amarelo abrange 22 livros, desenvolve suas e outras adaptações de Peter Pan, Hans Staden, Dom Quixote para crianças e Histórias de Tia Nastácia - folclore brasileiro.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
PENTEADO, José Roberto Whitaker. Os filhos de Lobato: o imaginário infantil na ideologia do adulto. 2 ed. São Paulo: Globo, 2011.
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